Singela homenagem ao frio

No frio, a gente se aquece por dentro. Sempre foi essa sensação que eu tive, e deve ser esse o motivo pelo qual o verão me deixa, digamos, travada. Além das várias vantagens físicas que o inverno proporciona – dormir de meia, com o maior número de cobertores possíveis, sair de casa com um casaco em cima do outro e mesmo assim sentir o nariz congelar, as lágrimas do olho secarem e, claro, a brevíssima emoção corporal (?) da fumacinha saindo da boca – o inverno também é porta de entrada pros melhores sentimentos. Ta certo, muita gente pode achar bobagem e outros prontamente discordarão de mim, preferindo as visões que acompanham o verão, incluindo gente com pouquíssima roupa, praias lotadas, sol queimando o asfalto e outras mais; mas eu, ainda assim e talvez por isso mesmo, prefiro a neblina que encobre o céu no amanhecer, a geada clareando a grama e os telhados, as pessoas mais bonitas, amáveis e com a bochecha vermelha, o vento severo que atravessa a gente, a sensação do café quente descendo pela garganta e da luva encostando-se aos objetos (aliás, uma especial atenção para esse item, que sempre me intriga: por que diabos eu gosto tanto de sentir com alguma coisa que impede que eu sinta de verdade o que eu toco?).
Pra entender melhor, é bom que se lembre como é tentadora a imagem de uma lareira, um café/chocolate quente/vinho tinto, um cobertor enorme, junto a uma boa companhia/junto a você mesmo/desacompanhado de todo mundo e até de você mesmo, talvez uma boa leitura ou um bom filme, de certo uma boa música, e por aí vai... Tem coisa melhor? E não, essas coisas não são as mesmas com o calor. Tirando a parte da lareira, a gente não deixa de ler, ver, ouvir, tomar, só que pra mim, sempre parece que essas atividades ficam incompletas sem o frio.
Agora, importante é dizer o que muda de fato dentro da gente. O coração aquece, talvez até aumente de tamanho. A vontade de dar e receber carinho aumenta também (essa deve ser culpa da luva). Os pensamentos procuram abrigo, alguns ficam mais perto dos outros pra se aquecer, e aí eles se completam. Sorrir fica melhor no inverno. Chorar com certeza pode fazer até bem no inverno. Claro que o verão traz consigo muita coisa boa, como também é indiscutível que traga muitas desvantagens, que nem há necessidade de mencionar, né?
Pode ser que essa paixão pelo frio seja fruto da minha localização geográfica e da minha condição espaço-cultural, ou seja, longe demais da capital, consequentemente do litoral, perto demais do mais sul, e mais próximo de onde neva com maior freqüência. Mas pode ser também que seja só a vontade de se sentir bem e compartilhar com quem gosta (adoradores do inverno, uni-vos). Já o texto, como deu pra notar, é puro fruto da saudade.