sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Mentiroso

Me chamo Adamastor, tenho (tinha) 42 anos e nesse momento falo por intermédio de um médiun que está psicografando o que falo para ele.
Bom, o que gostaria de falar é que eu era um mentiroso. E o pior, um BOM mentiroso. Lembro como se fosse ontem a primeira mentira que contei. Uma mentira simples obviamente. Quebrei o vaso chinês que minha mãe tinha ganhado de um primo da esposa do filho do irmão de um tio dela que estava morando na China e, sem titubear, coloquei a culpa no meu irmão (gêmeo). Eu tinha em torno de 5 anos. Meu irmão levou a maior surra de todos os tempos. Naquele dia minha vida mudou. Tomei gosto pela mentira.
À medida que fui crescendo as mentiras foram melhorando. Eu aperfeiçoava minha técnica no espelho. Lembro que um dia meu irmão (gêmeo) me flagrou falando com o espelho, ele indagou o que eu fazia e eu menti dizendo que estava treinando para o recital de poesia que teria em nossa escola. Mentir, mentir, mentir..que obsessão.
Fiquei mais velho. Contava já 15 para 16 anos e as mentiras passaram a ser para conseguir mulheres. Inventei dezenas de nomes e personalidades diferentes. Em meu guarda-roupas havia separado por prateleira as roupas de cada um dos meus personagens. Me dava muito bem. Claro que as mentiras sobre minhas personalidades não funcionava com as garotas do colégio, pois elas me conheciam. Mas São Paulo é grande e me deu várias outras opções. Ainda assim, me dava bem com as meninas do colégio, pois elas adoram ouvir mentiras. "você é a mais linda da escola", "nunca senti nada assim por ninguém" "só você me faz assim" eram as preferidas delas.
Atingi a maioridade e já não podia mais assumir várias personalidades. Era hora de trabalhar. Bom, não custa nada acrescentar algumas coisas no currículo para ser chamado mais rapidamente por uma empresa. Ah claro, essas alturas do campeonato eu já fazia faculdade e pasmem: de Direito. (risadas)
Consegui emprego num escritório de advocacia e comecei a escrever os argumentos para meus chefes advogados. Nunca o escritório esteve tão bem. Mal havia me formado e já estava ganhando um alto salário. Graças às minhas mentiras.
E o tempo foi passando e os cabelos rareando. E cada vez mais as pessoas acreditavam em minhas mentira e até mais depois que eu fiquei calvo. Junto com a idade veio minha esposa. Bom, nem preciso dizer que ela passou a ser a pessoa para a qual eu mais mentia. Pobre Ana.
Certa vez, já tinha meus 40 anos, fui parado pela policia por dirigir em alta velocidade. O policial chegou ironizando que eu estava com pressa e sem perder tempo apliquei uma das minhas melhores mentiras. Desci do carro e disse que esperava que ele soubesse o que estava fazendo. Antes preciso explicar que várias vezes me falaram que eu era parecido com o Comandante Bassani (chefe principal da policia de São Paulo) por causa da careca e da barriga e eu por ser advogado sabia seu nome e o conhecia quase que intimamente. O policial me pediu a habilitação e eu me aproveitando da escuridão perguntei se ele não estava me reconhecendo. O policial recuou e disse gaguejando "Comandante Bassani?". Respondi "Imbecil, você não deveria nem estar na policia". Entrei no carro e fui embora chorando de rir, literalmente.
Bom, acontece que em toda minha vida eu me dei bem com minhas mentiras. Mas foi ela justamente que pôs fim à minha tão divertida vida. Estava sentado no bar do Tonho (minha mulher achando que eu tava no escritório ainda), bebendo minha cerveja enquanto via dois moleques jogar sinuca. Entrou um sujeito no bar e eu nem dei muita bola. Ele se sentou junto ao balcão e pediu uma cerveja. Passado uns 5 minutos se dirigiu até onde eu estava sentado e perguntou se eu era o Don Omar. Vi ali uma boa oportunidade para mentir. E respondi "claro, sou eu sim". O homem sacou uma pistola e me deu 5 tiros.
Como é engraçado o mundo. Nem sabia quem era esse tal de Don Omar, mas menti e morri. A mentira, a mentira, a mentira. Minha algoz amiga.

FIM!


Não, não é o fim.
Na verdade eu me chamo Antônio e essa história aí em cima é tudo mentira. Eu sou escriturário, nunca me casei, não tenho irmãos (muito menos gêmeo), e ainda estou vivo.

FIM!


Não, não é o fim.
É claro que a primeira história pode ser verdade e eu estar mentindo que sou escriturário e etc. AFINAL, eu sou O Mentiroso!


FIM! (agora é)

4 comentários:

  1. É o fim mesmo, o pior de tudo é acreditar na própria mentira e passar a não saber se a mentira é verdade ou se a verdade é mentira....

    Clecí

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  2. ahuahuahua, muito bom! uahau
    me lembra david coimbra!

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  3. hauhauahauhauha
    concordo, muito bom!
    e se te conheço bem, a escolha da profissão do Adamastor não demandou muito pensar...
    não me ofendo, apesar de tudo.
    grande duds!

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  4. Tens o dom. Da mentira ou da escrita.
    Gosto do que leio, dudu!

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oi, sinta-se em casa! (mesmo não estando)