Causos de ônibus Nº1

Entrei no ônibus no terminal do centro, passei pela roleta e comecei a procurar uma poltrona que me agradasse. Por fim decidi me sentar na ultima fileira, no banco do meio, isto é, de frente para o corredor. No meu lado não havia ninguém sentado, mas na mesma fileira havia um homem ao lado de cada janela (direita e esquerda). E foi o homem da minha direita que me contou o causo que se segue.

Ainda não havíamos saído do terminal quando esse homem tentou abrir a janela. Sem sucesso. Então disse enquanto se levantava:

- Ah, tu vai abrir!

E realmente abriu. Ri da situação e vi que ele estava com o polegar da mão direita envolto por uma atadura um tanto quanto suja e mal presa. Ele se sentou e não demorou a puxar assunto:

- Abrir a janela né?! Pra dar uma circulada do ar. – disse com um bafo etílico – Senão eu bebo (a confissão), tu bebes e fica sem circular o ar.

- É verdade. – concordei.

Saímos do terminal e sob o pretexto de ser comunicativo ele começou a me contar sobre o seu dedo enfaixado. Nem lembro como chegou ao assunto, mas o fato é que chegou.

- Fui atacado por cinco cachorros – disse – e se eu te mostrar tu nem vai querer ver.

Pegou um envelope que estava sobre suas pernas que até então eu não havia notado e retirou uma radiografia. Entregou-me. Eu olhei e realmente achei feio o que vi. Ele falou que enquanto chegava em casa, escorregou e foi atacado pelos cachorros vira-lata do vizinho.

- Nem são cachorros, são demônios. – disse logo em seguida.

Eu apenas ria e concordava. E ele continuou:

- Se eles (inss) não me derem a aposentadoria, eu corto o dedão fora.

Eu já havia falado que era de Chapecó e um pouco antes de chegarmos no ponto em que ele desceria me disse:

- Você é um cara bom (acho que era o efeito do álcool). Conheço um monte de gente de Chapecó, mas tu és um cara bom.

Eu ri, ele puxou a cordinha, o ônibus parou. Nos despedimos e eu desejei melhoras. Antes de descer ele me olhou e repetiu:

- Se não melhorar, eu corto fora.

E desceu.